Testemunhos publicados e autorizados pela Revista Happy Woman de Junho a quem a SER+ agradece a colaboração
O Impacto do VIH
Mulheres
Testemunhos
Testemunhos de mulheres que julgavam que o VIH era um problema dos outros
Casadas, heterossexuais, fora dos supostos grupos de risco... Pensavam elas.
Não sei quem contagiou quem
"Todos os dias, quando acordo, lembro-me que tenho VIH. É uma marca invisível. E todos os dias dou graças a Deus por estar bem de saúde, sem sintomas da doença", desabafa Sofia, 29 anos. "Sou portadora do vírus há quatro anos e os médicos afirmam que posso viver muito tempo de forma saudável. Faço por isso. Tenho cuidado com a alimentação, com as horas de sono, com tudo o que me possa gerar stress. Quando recebi a notícia da seropositividade sofri um enorme choque, fiquei desesperada e o filme da minha vida passou em relâmpago pela minha cabeça. Tomei comprimidos para dormir e só tinha pensamentos negativos. O segundo momento mais doloroso foi quando contei à minha família. Conheço pessoas que estiveram meses, anos até, para revelar a doença. Eu disse logo. Se é para dizer, então que entremos juntos nesta nova vida. A notícia não foi bem aceite pelos pais do meu namorado da altura, também ele seropositivo. Não sei quem contagiou quem. Soubemos na mesma altura que tínhamos o VIH, após umas simples análises de check-up.
Terminámos a relação porque eu tive necessidade de contar à família, incluindo a dele, e ele não queria que se soubesse. Neste momento, não tenho ninguém na minha vida. É uma opção, quero concentrar-me em mim, na minha carreira e nas viagens com amigas. Quero desfrutar ao máximo de tudo o que a vida tem para me dar. Não sei se me sinto preparada para ter marido e filhos, isso implicaria cuidados redobrados. Tenho sexo ocasional, sempre com protecção, claro. Quando se trata de uma pessoa com quem quero encontrar-me mais vezes, conto a verdade. Senão, não vale a pena abrir a boca. A discriminação é uma realidade, há uma tendência para nos olharem de lado! Houve amigas que faziam comentários do tipo "coitada, que mau", ou "mas como é possível hoje em dia alguém ser infectado, com tanta informação?" Provavelmente, eu diria o mesmo, se não me tivesse acontecido a mim.
O fantasma adormecido
"Usar preservativo tem agora outro significado. Já não é usar para evitar apanhar alguma doença. É uma obrigação, uma responsabilidade, o desejo de não infectar o meu companheiro", diz Ana, 39 anos. "Sou seropositiva há oito anos. Até agora, não tive sintomas da doença, mas sei que há um fantasma adormecido dentro de mim. Tenho uma vida óptima, um filho fantástico e um parceiro que me adora. Contei-lhe a verdade desde o início. Se não me amasse, teria fugido. Mas ficou comigo. Mas houve potenciais namorados, e até amigas, que me viraram as costas. Muito mudou desde que soube que estava infectada.
Renasci, reinventei-me. Passei de um estado de profunda tristeza e desespero para uma visão cheia de esperança e optimismo. Claro que isto não é possível num estalar de dedos. É um caminho interior. O que não nos mata torna-nos mais fortes, sem dúvida. Toda a minha família sabe da minha situação e dá-me imenso apoio, é preciso ter suporte emocional.
Não sei bem como contraí o vírus...
Penso que foi com um namorado com quem deixei de usar protecção, em quem confiei demasiado. Mas não guardo ressentimentos contra ele. Eu também estava lá, não é verdade? As mulheres seropositivas podem levar a vida para a frente tal como as outras, ter sonhos, viver muitos anos, serem felizes, aspirarem a ser mães, tudo. Os avanços da medicina estão a aumentar a esperança de vida dos infectados com VIH. O importante é estarem informadas e cumprirem a medicação à risca."
Revolta, insanidade e excessos
Catarina, 26 anos, soube há cerca de um ano que é seropositiva.
"Tenho a certeza de que sei em que dia apanhei o vírus. Foi através de um ex-namorado, quer dizer… erámos amigos coloridos.
Encontrávamo-nos ocasionalmente para ter sexo, com a desculpa de que gostávamos de sair juntos e de beber uns copos. Conheci-o numa despedida de solteira, ele era animador de um bar para mulheres e estava disposto a sexo sem compromisso. Deixei-me encantar pelo seu corpo perfeito. Mas... nunca ninguém vê o que corre no sangue do outro. Ninguém se lembra de pedir as análises na hora de baixar as calças! Na excitação do momento, sob o efeito do álcool, tudo me passou pela cabeça menos a palavra SIDA. Na primeira vez, fizemos sexo com preservativo. Soube que ele tinha um filho, falou-me dele logo na primeira noite. Achava-o um homem super saudável. No segundo encontro, fiz-lhe sexo oral sem protecção, embora usássemos preservativo na penetração. Mas, nos encontros seguintes, não voltámos a usar preservativo. Depois, ele disse-me que tinha voltado para a mãe do filho e nunca mais nos vimos.
Até que soube que estava infectada com o VIH e o meu mundo ruiu. Para quê viver? Para quê acabar o mestrado, sonhar com uma carreira e uma relação estável? De repente, a minha vida era uma hipoteca. Desejei morrer. Só pensava em imagens de gente moribunda, com manchas na pele. Não queria causar sofrimento aos meus pais.
Como dar-lhes a notícia?" Durante meses, Catarina esteve mergulhada num processo de negação: "Todos pensaram que eu tinha uma depressão. Foram tempos de grande insanidade e de excessos: meti-me em drogas, fiz sexo com estranhos sem protecção, queria morrer e que todos morressem. Agora, estou a começar a perdoar-me a mim mesma, não é fácil mas é possível.
Finalmente, aceitei ajuda profissional e estou a ser medicada. Mas ainda não tive coragem de contar à minha família."
Presente envenenado
"O céu desabou e senti-me cair num poço sem fundo. Sim, a sensação é mesmo essa. Como se nos afundássemos numa espiral de sentimentos negativos". Foi assim que Sara, 34 anos, descreveu o momento em que soube que era portadora do VIH. "Achamos que só acontece aos outros, a quem é ignorante e se põe em risco. Eu sou uma mulher inteligente e informada, pensei que nunca cairia nesta teia. Quando soube, senti-me vítima de uma armadilha, agredida, violentada, estúpida. Porquê a mim? Porque teria de carregar esta cruz?" A seguir à notícia, Sara entrou numa fase de revolta, que abafou o sofrimento causado pelo fim do casamento com Tiago: "Ele tinha-me traído e isso destruiu a relação.
Ainda nos mantivemos juntos por algum tempo, mas nada pode ser "colado" sem que fiquem cicatrizes. Portanto, separámo-nos.
Hoje, partilhamos o poder paternal da nossa filha e o VIH, que me foi oferecido como presente envenenado. Fui contagiada pelo Tiago, pelo meu próprio marido. Porém, ele nunca pensou que a infecção pulmonar que me atirou para o hospital fosse já reflexo do vírus que me passou.
Quando o confrontei, ele admitiu que sabia que estava infectado e que me ia confessar. O Tiago ficou muito em baixo, tentou suicidar-se.
Ainda hoje está a ser acompanhado por um psiquiatra, ao contrário de mim, que dei a volta por cima. Pelo menos, gosto de pensar que estou a fazê-lo, em nome do bem-estar da minha filha. Por ela, cumpro a medicação à risca, tomo todos os cuidados e acordo todas as manhãs grata por acompanhá-la em mais um dia. Sei que a confiança nos profissionais de saúde que me acompanham e a mente sã são essenciais neste processo. Recuso-me a morrer para já. Posso viver muitos anos desde que siga o tratamento com os medicamentos antiretrovirais. Só contei que estava infectada aos meus pais e irmãos. No emprego está fora de questão dizer a verdade, não é apropriado, não se justifica. Ainda há muito preconceito mascarado."
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