Como posso ter a certeza que não infeto ninguém?
Luís Mendão
EATG-European AIDS Treatment Group
H-CAB HCV Community Advisory Board
Member of WHO Civil Society Reference Group on HIV
GAT - Grupo Português de Activistas sobre Tratamentos de VIH/SIDA - Pedro Santos
Para as Pessoas que vivem com o VIH
Como posso ter a certeza que não infeto ninguém?
Tal como outros vírus, o VIH penetra nas células de um organismo vivo e reproduz-se dentro dessas células infetadas, criando novas cópias. Encontramos VIH no sangue e em outros fluidos corporais tal como o sémen e os fluidos vaginais. O VIH não sobrevive fora do corpo humano, durante muito tempo, por isso, para que o VIH possa ser transmitido é necessária uma quantidade significativa de fluidos corporais de uma pessoa infetada e de um ponto de entrada noutro ser humano. O vírus pode entrar no corpo humano através da corrente sanguínea ou através das delicadas membranas da mucosa, como as da vagina, do reto e da uretra - não se conhecendo qualquer caso de transmissão pela saliva.

Existem precauções que se devem tomar para reduzir o risco de infetar outras pessoas com o VIH através das três únicas e conhecidas vias de transmissão:

Filme gentilmente cedido pela Direção Geral de Saúde, no âmbito do Programa Nacional para o VIH/SIDA

Transmissão Sexual

Pode eliminar-se ou minimizar-se o risco de transmissão do VIH durante a prática sexual através:

  • Abstinência sexual ou adiamento da primeira relação sexual;
  • Manter-se fiel a um único parceiro(a) ou ter poucos parceiros (as);
  • Usar consistente e corretamente os preservativos tanto masculinos como feminino;

Apesar de poder ser um processo difícil, é bom que as pessoas que vivem com o VIH contem aos seus parceiros sexuais para que ambos possam tomar as precauções necessárias à redução da transmissão pelo VIH.

E, como é que o VIH se transmite através do sexo vaginal:
O VIH existe nos fluidos sexuais de uma pessoa infetada. Para um homem, isso significa que o VIH é detetado nos líquidos pré-ejaculatório e no sémen antes e durante a relação sexual. Para uma mulher, isso significa que o VIH é detetado nos fluidos vaginais que são produzidos pela vagina para mantê-la limpa e para facilitar a penetração do pénis nas relações sexuais.
Se um homem seropositivo tiver sexo vaginal sem preservativo então, o VIH pode passar para o corpo da mulher através do revestimento vaginal e do colo do útero. O risco de transmissão pelo VIH aumenta se a mulher tiver um corte ou uma ferida dentro ou ao redor da vagina, isto com certeza, facilitará a entrada do vírus no sistema sanguíneo. Esses cortes ou feridas, por vezes, são, muitas vezes, indetetáveis a olho nu e por isso, s desconhecidos para a mulher.

Se uma mulher seropositiva tiver relações sexuais com um homem sem preservativo, o VIH pode entrar no corpo do homem através de uma ferida no pénis ou através da sua uretra (o tubo que percorrer o pénis) ou através do interior do seu prepúcio, no caso de o ter, claro.
Qualquer contacto com o sangue durante as relações sexuais aumenta a hipótese de a infeção. Por exemplo, pode existir sangue na vagina se as relações sexuais acontecerem durante o período menstrual. Algumas infeções sexualmente transmissíveis, como por exemplo, o herpes e a gonorreia, também podem aumentar significativamente as probabilidades da transmissão do VIH.

E, através do sexo anal:
Relações sexuais anais recetivas (isto é, relações sexuais onde o ânus de uma pessoa é penetrado pelo pénis do homem) têm um risco de transmissão do VIH maior do que as relações sexuais recetivas vaginais. O revestimento do ânus é mais delicado do que o revestimento da vagina, por isso é maior a probabilidade de este ser danificado durante o sexo. Qualquer contacto com sangue durante o sexo aumenta o risco da infeção.
O homem que assume a posição insertiva, durante a relação anal com um homem ou com uma mulher que sejam infetados pelo VIH, também corre o risco de ficar infetado, apesar desse risco ser menor.

Através de sexo oral:
Fazer sexo oral com um parceiro infetado pelo VIH implica um risco pequeno de infeção. Se uma pessoa faz sexo oral (lamber ou chupar o pénis ou a vagina) com uma pessoa (homem ou mulher) infetada pelo VIH, o fluido infetado pode entrar na boca. Se a pessoa tiver com sangramentos nas gengivas ou pequenas úlceras dentro da boca, existe um risco de o VIH entrar na corrente sanguínea.
Existe, também, um pequeno risco se a pessoa infetada pelo VIH fizer sexo oral quando tem as gengivas ensanguentadas ou uma ferida aberta na boca. A saliva não produz qualquer tipo de risco.
A infeção do VIH através do sexo oral parece ser bastante rara e, atualmente, já existem muitas formas de se proteger.
Preservativos aromatizados ou com sabor estão disponíveis para aqueles que não gostam do sabor do látex ou espermicida. Para praticar o cunnilingus ou anilingus, um preservativo cortado ou uma represa dental (um quadrado fina de látex) pode servir como uma barreira física para evitar a transmissão do VIH e muitas outras infeções sexualmente transmissíveis.

Transmissão sanguínea

As pessoas que vivem com o VIH que são utilizadores de drogas injetáveis correm forte risco de transmitir o VIH e a Hepatite C a outros utilizadores de drogas com quem partilhem material de uso. A partilha de material de injeção não esterilizado é uma forma com maior probabilidade de transmissão destes dois vírus por via sanguínea. A partilha de seringas e outro material de consumo, como a colher, a carica e água contaminada, tem três vezes mais probabilidade de infetar do que as relações sexuais não protegidas. O uso de material desinfetado em todos os consumos reduz a probabilidade da transmissão mas não a elimina por completo.

Os programas de substituição opiácea - como o da metadona e outros programas semelhantes - são formas eficazes de ajudar as pessoas a eliminar a prática de se injetarem e de partilharem todos o mesmo material. No entanto, muitas pessoas não querem ou é-lhes difícil desistir dos consumos injetados.

Os programas de troca de seringas, distribuindo seringas e material para injeção esterilizado e recolhendo material usado em contentores seguros, são altamente eficazes e reduzem a transmissão do VIH, quando as pessoas que não conseguem abandonar o consumo de drogas injetável. Também estão disponíveis serviços como as Equipas de Tratamento para Toxicodependentes (ex-CATs) e vários grupos de aconselhamento e de auto ajuda.

É claro que, quando se vive com a infeção pelo VIH não se pode doar sangue, plasma ou órgãos devido ao elevado risco de transmissão do VIH.

Curiosidade:
Perguntarás: no caso de as pessoas desconhecerem o seu estatuto serológico e forem seropositivas, se pretenderem dar sangue, não deverá o Instituto Português do Sangue salvaguardar esse desconhecimento ou até mesmo a mentira? Se sim, então, por que razão houve tanta polémica em Portugal com a seguinte notícia?
"Um estudante de Medicina de 23 anos viu a sua dádiva de sangue recusada, há duas semanas, numa unidade móvel do Instituto Português do Sangue e da Transplantação, em Lisboa. O motivo? Declarar-se homossexual. Este aluno universitário costuma, desde há dois anos, dar sangue duas vezes por ano.
O Bloco de Esquerda (BE), que há dois anos fez aprovar uma resolução parlamentar contra uma prática que considera discriminatória, veio denunciar o caso.
Alexandre (nome fictício) disse ao PÚBLICO que a pergunta sobre se a pessoa que quer dar sangue é homossexual ou bissexual não constava do questionário que teve que preencher antes da dádiva, e esta era uma das reivindicações do BE, mas afirma que a médica que lhe fez a entrevista pré-dádiva lhe disse que "nunca mais poderia dar sangue porque é homossexual", isto depois de lhe ter sido perguntado se tinha múltiplos parceiros sexuais, ao que respondeu negativamente, e se utilizava preservativo, ao que respondeu que sim e que tinha o mesmo parceiro há um ano.
"Não posso fazer nada, são regras"
Alexandre questionou quanto tempo teria de estar em abstinência sexual até poder dar sangue tendo-lhe sido respondido que "nunca mais poderia dar sangue porque é homossexual". O estudante de Medicina disse que não tinha comportamentos de risco, mas a profissional de saúde respondeu de volta: "Não posso fazer nada, são regras".
Depois deste episódio deixou a sua queixa na caixa do cidadão do Bloco de Esquerda que, com base no caso, afirma que os homossexuais e bissexuais masculinos continuam a ser discriminados nas dádivas de sangue.
A situação há muito vem sendo denunciada pelo partido que, em 2010, fez aprovar na Assembleia da República uma resolução que recomendava ao Governo "a adoção de medidas que visem combater a atual discriminação dos homossexuais e bissexuais nos serviços de recolha de sangue".
O partido parte do pressuposto "que nem todas as pessoas discriminadas reclamarão e que é lícito inferir que este não será um caso isolado". Assim, na sequência da denúncia de Alexandre, o deputado bloquista João Semedo remeteu ao Governo uma série de perguntas, questionando o que foi feito para pôr em prática a resolução do Parlamento que pretendia pôr fim a práticas consideradas homofóbicas."

Texto de Catarina Gomes de 28/06/2012 na publicação on-line P3

As transfusões de sangue e hemoderivados
Atualmente, todo o sangue usado para transfusões em países desenvolvidos é testada para o VIH, no entanto, isso nem sempre foi assim e continua a não se verificar em países de menores recursos.

Vejam o caso de Portugal e de França.

Em Portugal, Leonor Beleza, Ministra da Saúde nos X e XI Governos Constitucionais (1985-90), viu o seu mandato marcado pelo escândalo da infeção com VIH de dezenas de hemofílicos, devido à administração de fator VIII - um derivado do sangue de que necessitam para aumentar o fator de coagulação - contaminado, proveniente da Áustria, sem certificado de garantia e não inspecionado, realizada em hospitais públicos.

Um tribunal arbitral criado pelo Governo determinou, só em 1995, que cada hemofílico infetado recebesse, do Estado, uma indemnização de 12 mil contos (na moeda da altura). No entanto, quer a Ministra quer os altos funcionários do Ministério da Saúde envolvidos na compra e autorização da disponibilização do lote infetado, contestando sempre a sua responsabilidade criminal, conseguiram fazer prescrever os processos.

Já em França, e também em meados dos anos 90, no âmbito de um outro escândalo em tudo semelhante, Michel Garetta, ex-diretor do Centro francês de Transfusão Sanguínea, foi condenado a quatro anos de prisão efetiva, o ex-Director-Geral da Saúde francês, a quatro anos de prisão com pena suspensa, e o ex-primeiro-ministro Laurent Fabius, a ex-ministra da Saúde Georgina Dufoix e o ex-secretário de estado Edmond Hervé, são levados a tribunal por decisão do Parlamento francês.
Em 1997, o segundo processo do sangue contaminado acaba: Fabius e Dufoix são ilibados e completamente reabilitados, Hervé é condenado com pena suspensa.

Transmissão Ocupacional

A transmissão ocupacional (dita nosocomial) ocorre quando profissionais da área da saúde são, em ambiente laboral, contaminados com sangue ou outros fluidos corporais de pacientes infetados pelo VIH. Estima-se que o risco de contrair a infeção após uma exposição percutânea a sangue contaminado seja de aproximadamente O,3%. Os fatores de risco facilitadores deste tipo de contaminação são: a profundidade e extensão do ferimento, a presença de sangue contaminado visível no instrumento que produziu o ferimento, o procedimento que resultou na exposição, o envolvimento de agulha colocada diretamente na veia ou na artéria da pessoa infetada pelo VIH; e, finalmente, o paciente fonte da infeção estar em estado terminal. O uso da zidovudina, após a exposição reduz, aparentemente, a probabilidade de transmissão pelo VIH.

Hospitais, centros de saúde e clínicas devem tomar precauções universais para prevenir a propagação de infeções transmitidas pelo sangue. Estas incluem o uso de instrumentos cirúrgicos esterilizados, o uso de luvas, as regras universais de assepsia e a segurança com a eliminação de resíduos hospitalares. Em países desenvolvidos, a transmissão ocupacional é extremamente rara. No entanto, alguns casos continuam a ocorrer em alguns países, desenvolvidos e subdesenvolvidos, quando e onde os procedimentos de segurança não são bem implementados.

Os profissionais da saúde só muito raramente se infetam, normalmente por se picarem em agulhas que contém sangue infetado pelo VIH. Muito poucos ficaram infetados por terem uma ferida aberta ou por uma pessoa seropositiva lhes ter espirrado diretamente sobre uma mucosa (por exemplo, os olhos ou o interior do nariz). Há muito poucos casos documentados de pessoas que tenham sido infetadas com VIH por um profissional de saúde.

Tatuagens e piercings

Potencialmente, qualquer coisa que permita que o sangue de outra pessoa entre na nossa corrente sanguínea, envolve um risco. Se o equipamento não foi esterilizado antes de fazer uma tatuagem ou colocar um piercing, pode haver um risco significativo de exposição, isso, claro, se a pessoa estiver infetada pelo VIH.
Na maioria dos países desenvolvidos existem normas de higiene que regem estabelecimento comerciais que praticam tatuagens e piercing para garantir que todos os instrumentos utilizados são esterilizados. Se pensa fazer uma tatuagem ou um piercing, pergunte, sempre, à equipa da loja que procedimentos tomaram para evitar infeções de transmissão sanguínea.

Transmissão vertical ou de mãe para filho

O tratamento para reduzir o risco de transmissão de VIH ao bebé durante a gravidez, o parto ou durante a amamentação está disponível às grávidas seropositivas em muitos países, inclusive, Portugal. É muito importante que as mulheres, logo no início da gravidez, procurem informação de um médico sobre essa matéria.
Se uma gravida estiver infetada pelo VIH, ela pode transmitir o vírus ao seu filho durante o período de gestão, no parto ou durante a amamentação. Sem tratamento, cerca de 15 a 30% dos bebés nascem infetados e um, pouco menos, cerca de 5 a 20% tornam-se infetados durante a amamentação.

Os medicamentos atuais são muitíssimo eficazes na prevenção da transmissão vertical. Quando combinados com outras intervenções, incluindo a amamentação artificial, um ciclo completo de tratamento pode reduzir o risco de transmissão a menos de 2%. Mesmo quando os recursos são escassos, a administração à mãe e ao bebé, de uma dose única de medicamento pode cortar o risco para metade.

Uma mulher que saiba que ela ou o seu parceiro é portador de VIH deve, antes de engravidar, procurar saber quais as intervenções que estão disponíveis para que, não só, ela se possa proteger, como proteger o seu parceiro e o seu bebé. Os médicos deverão aconselhar a intervenção mais adequada à situação que lhes surja e, também, ajustar qualquer tratamento que já estejam a fazer ao facto de a mulher ser infetada pelo VIH.

Uma coisa muito importante é estar bem informado(a) e não acreditar nos mitos que cercam o tema da transmissão da infeção pelo VIH. Os mitos e as falsas crenças podem trazer graves prejuízos para a vida das pessoas que vivem com a infeção, aumentando-lhes o medo, o estigma e a discriminação.

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